Uma jornada interior de 100 horas de meditação Vipassana
Há alguns dias retornei da minha primeira experiência com a técnica de Meditação Vipassana - um retiro de 10 dias no Centro Dhamma Santi, em Miguel Pereira, no Rio de Janeiro; junto com um grupo de 100 pessoas. Nesse post vou contar todos os detalhes de como foi essa experiência!
A motivação
Há pelo menos três anos, venho me comprometendo com o Yoga como caminho de auto aperfeiçoamento e auto conhecimento - uma maneira de, verdadeiramente, viver a vida. O processo de ensinar e aprender essa sabedoria tem sido contínuo e profundo e, naturalmente, essa trilha me levou até a vontade de olhar com mais atenção para a minha prática da meditação. Esse é um caminho esperado, veja o porquê:
O Yoga é composto por oito etapas (angas): Yamas (princípios éticos em relação ao mundo), Nyamas (princípios éticos em relação a si ), Asana (estudo das posturas do corpo), Pranayama (estudo do fluxo da energia vital - prana - por meio da respiração), Prathyahara (estudo dos sentidos), Dharana (estágio inicial de focar a concentração), Dhyana (estado intermediário de concentração focada e prolongada) e Samadhi (estado meditativo profundo, suspensão da percepção que separa o eu e o todo).
O processo de praticá-lo de forma integral é gradativo e interdependente, por isso, a partir do momento em que alguém se dedicada a praticar os valores da filosofia na sua relação consigo e com os outros (yamas e nyamas) e ter seriedade e constância em sua prática pessoal (asana, pranayama e prathyahara) é normal que a próxima parada seja o contato e o estudo dos estados meditativos que levam ao Samadhi (união com o todo).
Eu não sabia exatamente o que esperar, mas achava incrível a possibilidade de aprender em uma imersão de 10 dias de silêncio uma técnica milenar ensinada por Buda, de forma totalmente independente de crença ou religião - e lá fui eu.
A rotina
4:00h - Sino para despertar;
6:30 - 8:00h - Café da manhã;
8:00 - 9:00h - Sessão de meditação em grupo na sala coletiva;
11:00 - 12:00h - Intervalo de almoço; meditação no quarto ou na sala, segundo instruções do professor;
11:00 - 12:00h - Intervalo de almoço;
13:00 - 14:30h - Meditação na sala ou no quarto e entrevista agendada com professor (sobre a técnica ou quaisquer dificuldades ou acontecimentos em relação à meditação);
13:00 - 14:30h - Meditação na sala ou no quarto;
14:30 - 15:30h - Sessão de meditação em grupo na sala;
15:30 - 17:00h - Meditação na sala ou no quarto segundo instruções do professor;
17:00 - 18:00h - Pausa para o chá;
18:00 - 19:00h - Sessão de meditação em grupo na sala;
19:00 - 20:15h - Palestra;
20:15 - 21:00h - Sessão de meditação em grupo na sala;
21:00 - 21:30h - Horário para perguntas públicas na sala de meditação (sobre a palestra da noite e também sobre a técnica);
21:30h - Hora de se recolher para o quarto;
22:00h - Pagar das luzes.
Acomodações
Existem dois tipos de acomodação disponíveis - suítes ou quartos coletivos (mais ou menos de três a cinco pessoas). A administração organiza os alunos nas dependências de acordo com as necessidades de cada um. Os ambientes são simples e confortáveis.
Alimentação
A alimentação oferecida é vegetariana e deliciosa - dá para sentir no paladar e na apresentação o carinho com que os servidorxs preparam as refeições.
As opções de café da manhã eram fixas: frutas, iogurte, mingau, passas e ameixas cozidas, pão integral, geleia de goiaba e manteiga. Para beber chá, leite, café solúvel, achocolatado e cevada em pó. Ás vezes rolavam alternativas à manteiga e ao leite para os veganos.
No almoço tínhamos opções de salada, molhos, grãos, massas, legumes e sobremesa. Sempre com opções sem derivados de animal. Para beber, chá.
O chá da tarde é fixo, como o café da manhã. Três variedades de frutas, duas unidades para cada pessoa. Para beber, chá ou leite. Os alunos antigos não fazem essa refeição, eles param de comer após o almoço e, nesse horário, ingerem apenas água quente com limão.
Existe uma campainha para se comunicar com a cozinha, você pode utilizá-la para falar com quem estiver lá, caso tenha alguma necessidade especial. Não é permitido comer fora do refeitório ou fora dos horários estipulados.
O tempero é bem variado e perfumado, com pouquíssimo sal.
Preceitos (Silas) e Regras
Em vários momentos do processo de aplicação para vaga, e até mesmo na chegada ao centro de meditação, é salientado o aspecto da disciplina durante o curso. Se inscrever significa, então, aceitar e se reconhecer capaz de praticar todos os itens do código de conduta, incluindo os horários da programação.
No início, pode parecer um pouco assustador, mas ao longo do curso eu pude perceber a importância de cada regra na criação de um ambiente favorável para o mergulho interno de cada um. É preciso confiar e entregar! Vamos a eles:
Preceitos
Todos os alunos concordam em seguir as seguintes cinco diretrizes (silas):
Não matar qualquer ser (incluindo insetos e outros animais);
Abster-se de roubar;
Abster-se de qualquer atividade sexual;
Abster-se de mentir;
Abster-se de usar qualquer intoxicante (salvo remédios prescritos).
Os alunos antigos (aqueles que já concluíram um curso de 10 dias) devem seguir mais três preceitos:
6. Não comer após o meio-dia;
7. Não usar adereços;
8. Não dormir em camas elevadas.
Regras
Observar o nobre silêncio: não é permitido conversar, fazer gestos, comunicar com olhares ou mandar bilhetes para os outros meditadores. Qualquer problema prático pode ser conversado com xs gerentxs e toda questão em relação a meditação deve ser sanada com xs professorx;
Durante a meditação, deve-se seguir as instruções e orientações exatamente como são dadas, com confiança e entendimento. Não acrescente nem omita nada da técnica. Qualquer dúvida quanto ao método pode e deve ser sanada com os professorxs nos horários destinados a isso;
Suspender qualquer outra prática espiritual ou religiosa durante o período do curso, para que você possa sentir os benefícios de Vipassana de forma justa e pura. Aqui se inclui canto de mantras, queima de incensos, Yoga, jejum, orações e etc;
Segregação entre homens e mulheres. Essa separação ocorre em todos os ambientes, começando no primeiro dia e terminando no último: refeitório, alojamentos e sala de meditação;
Evitar contato físico com qualquer pessoa;
Não praticar nenhum exercício físico além da caminhada, por questões de limitação de espaço e distração dos outros meditadores;
Não usar objetos religiosos: terços, japamalas, cristais, imagens, etc;
Não usar tabaco, rapé ou qualquer outra substância;
Usar roupas simples, modestas e confortáveis. Nada colante, transparente ou curto, o comprimento ideal é abaixo dos joelhos. Não é permitido ficar sem camisa nem despir-se para tomar banho de sol;
Permanecer nas dependências do centro durante todo o curso, saindo somente com o consentimento do professor.
Abster-se de qualquer contato com o exterior. Em caso de emergência, os familiares e amigos poderão sempre entrar em contato com a administração;
Não usar nenhum dispositivo eletrônico: celulares, laptops, tablets e outros devices ficam guardados com a gerência até o final do curso;
Não usar gravadores ou câmeras, a menos que exista uma autorização prévia;
Não levar livros, instrumentos, ou qualquer material de escrita. É importante suspender qualquer entretenimento externo, permanecendo concentrado somente no seu processo com a meditação. Esta é uma técnica eminentemente prática, por isso, anotações também não são permitidas.
Buddha, Dharma e Sangha
A Joia Tríplice, formada por esse três elementos é onde "tomamos refúgio" durante todo o curso, é uma estrutura de suporte e confiança. A primeira joia é Buddha representando, não uma pessoa específica, mas a própria busca pelo caminho do conhecimento de si mesmo; a segunda é Dharma, a lei fundamental da natureza - a que tudo rege; e a terceira é Sangha, que são todas as pessoas que estão unidas com alegria nesse mesmo propósito.
A técnica
Parte 1 - Despertar da consciência (Samma Samadhi)
Vipassana significa "ver as coisas como são", uma técnica indiana de meditação com mais de 2500 anos de idade. Ela foi resgatada e passou a ser ensinada por Gautama, o Buda, como uma ferramenta para lidar com o sofrimento e viver uma vida de felicidade, paz e harmonia. O caminho percorrido para atingir esse objetivo passa por Sila (moralidade, são os preceitos explicados acima), Samadhi (experiência direta de um estado de consciência elevado) e Pãnia (sabedoria).
Entende-se que, para isso, precisamos treinar a nossa mente, pois o sofrimento não vem de fora, ele começa quando fazemos a leitura mental de certas situações e reagimos a elas. Então, nos identificamos e a negatividade tem início. Portanto, a técnica visa desenvolver a consciência, ensinando-a como lidar com as mais diversas situações que se apresentam em nosso cotidiano, sejam elas agradáveis ou desagradáveis.
Construir a sua própria felicidade, portanto, parte do princípio de estar no comando das suas reações, sair do automático e estar presente e consciente a cada momento. Coisas boas e ruins acontecem a todo tempo, em todos os lugares do mundo; e é muito pouco provável que possamos controlar todas elas. Por isso, com Vipassana, aprendemos a olhar para dentro e tomar as rédeas da nossa mente a partir do momento em que temos contato com essas fagulhas, evitando que se alastrem descontroladamente.
O curso tem caráter prático, de experiência. Portanto, todos os ensinamentos serão experimentados dentro da moldura do corpo, que é o nosso instrumento de contato com a realidade nessa vida. Para isso, dois pilares são essenciais nessa caminhada: a consciência das sensações físicas e o exercício da equanimidade.
Nos primeiros três dias aprendemos a meditação Anapana, que significa "atenção à respiração". Para nos concentrarmos de forma profunda é necessário um objeto, algo para focar a nossa mente - e o que passamos a observar é o fluxo de ar que entra e sai pelas narinas. Nesse ponto do curso, pede-se que não sejam utilizados nenhum tipo de visualização ou vocalização - para preservar a força e a pureza da técnica. Com um objeto vocal ou visual você concentra a sua mente facilmente, mas esse não é o objetivo aqui. Com Anapana, começa-se a desenvolver um estado aguçado da mente, ideal para nos deixar atentos e alertas ao que acontece de forma natural em nosso corpo.
A respiração está presente em todos os seres e nos acompanha do início ao fim da vida. Ela também tem dois aspectos muito importantes: está ligada aos nossos estados emocionais (quando nos irritamos, ficamos mais ofegantes; quando estamos tranquilos a respiração é longa e suave) e a mente consciente (podemos respirar mais forte ou prender a respiração se quisermos) e inconsciente (durante o sono, por exemplo, permanecemos respirando sem perceber). Por isso, ela é o objeto ideal para aprofundar a sua capacidade de auto observação, uma verdadeira ponte entre o denso e sutil.
O processo é realmente como se estivéssemos amolando uma faca velha. No início, nossa mente não tem nenhuma precisão, você mal consegue se concentrar na sua respiração de tão falante que está a sua cabeça, mas aos poucos todo esse barulho vai cessando e a sua percepção vai se tornando afiada, presente e certeira.
Meditando com Anapana você começa a observar a sua respiração como ela é no exato momento em que acontece, sem desejar alterá-la; passando da percepção do fluxo pelas narinas, para a temperatura do ar, até as sensações que o ato inspirar e exalar provoca ao passar pela região do buço.
É incrível observar a evolução a cada dia: no início mal somos capazes de identificar qual narina está mais desobstruída, mas em torno do terceiro dia já estamos identificando os mais diversos tipos de sensação (calor, frio, coceira, vibração, expansão, retração, pulsação, repuxado, pontadas, cócegas) nessa parte. Dessa forma, desenvolve-se o Samma Samadhi, o tipo de concentração correta para que possamos mergulhar na etapa seguinte.
Parte 2 - purificação da consciência (Pania)
Na tarde do dia três entramos efetivamente na técnica Vipassana, todo o processo até aqui foi uma preparação para ter as ferramentas corretas para acessar e purificar o campo do profundo.
Buda entendia que nossa mente inconsciente não é um canto esquecido de nossa percepção, pelo contrário, ela está presente o tempo todo. Mas a linguagem que ela entende não é a das palavras, nem a da razão, e sim a das sensações físicas.
A meditação Vipassana consiste, então, em expandir a consciência aguçada que desenvolvemos nos três primeiros dias - da respiração, para todo o corpo. Experimentando todas as sensações que aparecerem. Simples assim? Não. Lembra do segundo pilar que falei no começo? Equanimidade, essa é a chave.
Cada vez que vier uma sensação, não importa se ela é boa ou ruim, você deve apenas observar, sem se identificar. Não reaja com nenhum tipo de aversão (julgar muito ruim, não querer nunca mais), nem avidez (julgar muito bom, querer de novo e de novo), apenas olhe com equanimidade e entenda a característica comum por trás de todas elas: a impermanência.
Observando a natureza podemos reconhecer Anitcha, a lei da impermanência que mantém tudo está em constante mutação: a água ora é mar, ora é rio, ora é chuva, ora é umidade no ar; os animais - ora são preza, ora caçadores; a lua - ora é nova, ora é crescente, ora é cheia e ora é minguante. Olhando mais de perto, no nível atômico, a realidade é a mesma: pura energia, nenhuma solidez, partículas totalmente dinâmicas e mutáveis.
Somos parte dessa mesma natureza e a ordem que rege a todos nós é o movimento constante; quando nos distanciamos dessa percepção e nos vemos como separados do todo, perdemos a sintonia com esse fluxo e ficamos estagnamos, entediados, desenergizados, apáticos; e essa é a razão de todo o nosso sofrimento - o apego gerado pela incompreensão da lei da impermanência.
Vipassana é um exercício de libertação (gradativo, sério, constante e disciplinado) das raízes da nossa negatividade. Na medida em que experimentados todos os tipos de sensações (boas e ruins) e não ligamos a elas o nosso velho estoque de reações automáticas, vamos limpando, um a um, os nossos sankaras (condicionamentos) do presente e também do passado.
Um exemplo: você tem o hábito de fumar. Dentro do curso isso não é permitido. Logo, você vai ter 10 dias para observar a sua vontade de fumar. Fazendo o exercício de olhar isso com equanimidade você irá perceber que o que te dá prazer não é especificamente o cigarro, em si, mas a sensação ligada a esse objeto (pode ser de aceitação social, relaxamento, pausa, introspecção, diversão, auto sabotagem, etc). E como todas as sensações são impermanentes, essa também irá passar.
Alguns condicionamentos são rasos (adquiridos recentemente, sem muito apego), outros são muito profundos (crenças que vem de família, ou vícios que temos reforçado durante toda a nossa vida) e isso irá definir também o quanto de trabalho, auto controle e determinação você irá precisar para libertar-se disso. Por isso, saiba, Vipassana não é uma meditação relaxante nem que promete resultados instantâneos sem esforço - muitas sombras serão encontradas no caminho e será necessário muita persistência.
Nos primeiros dias de meditação, as sensações são bem rígidas e concretas: formigamento, dor, pressão; e aos poucos elas vão se tornando mais sutis, evoluindo para vibrações uniformes por todo o corpo.
Isso acontece devido a mudança na percepção causada por todas as disciplinas que estão sendo seguidas (silêncio, sono, alimentação moderada com pouco sal, caminhadas leves em um local limitado, 10/11 horas de prática por dia).
É como uma escavação arqueológica: cavando raso em vários locais diferentes você nunca irá encontrar nada, mas quando se concentrar numa área menor e aprofundar-se com atenção, tesouros que sempre estiveram ali e nunca foram percebidos antes, irão se revelar.
Parte 3 - Metta Bhavana
No último dia de curso aprendemos Metta (amor incondicional) Bhavana (desenvolvimento), uma meditação que tem como propósito enviar energia de amabilidade, paz, perdão e compaixão para nós, nossas relações e ambientes.
Ela dura cerca de 5 minutos e é feita após uma sessão de Vipassana e um breve relaxamento. Para quem passou dias trabalhando arduamente com as mais diversas sensações, memórias e crenças, esse momento é como um afago na alma.
Dia a dia
Chegada (dia 0)
- O Check in é feito no fim da tarde. Chegando no Centro de Meditação, você preenche uma ficha e guarda seus pertences não permitidos com os organizadores (celular, computador, livros, objetos religiosos, papel, caneta, etc). Depois, você é encaminhado para a sua acomodação, estando livre para levar sua mala para o quarto, tomar um banho, conhecer os entornos do alojamento e conversar com os outros alunos.
- Ás 18h é servida uma sopa no refeitório. Lá mesmo, às 19:00h é feita uma breve reunião em que os gerentes dão detalhes sobre o funcionamento do curso (rotina, disciplinas, regras).
- Às 20h todos se encontram na sala de meditação para a abertura do curso. Lá nos comprometemos a seguir os silas e fazemos um pedido formal para aprender a meditação Anapana. O término é por volta das 21:00h e aqui se inicia-se o nobre silêncio.
Dia 1
- Meditação Anapana;
Dia 2
- Meditação Anapana;
Dia 3
- Meditação Anapana até às 14:00h;
- Introdução à Meditação Vipassana (não se pode sair da sala durante as instruções inaugurais).
Dia 4
- Meditação Vipassana;
Dia 5
- Meditação Vipassana (nas sessões de meditação coletiva na sala, das 08:00 - 09:00h, das 14:30 - 15:30h e das 18:00 - 19:00h passamos a praticar em Adhitthana - forte determinação - o que significa não abrir os olhos, mexer pernas ou mãos durante todo o período).
Dia 6
- Meditação Vipassana;
Dia 7
- Meditação Vipassana;
Dia 8
- Meditação Vipassana;
Dia 9
- Meditação Vipassana;
Dia 10
- Meditação Vipassana até 09:00h;
- Introdução a Meditação Metta Bhavana até às 10:00h;
- Fim do nobre silêncio e da separação entre homem e mulheres nas áreas comuns;
- Acesso a material sobre Vipassana e vídeos;
- Almoço;
- Acesso a material sobre Vipassana e vídeos;
- Mantêm-se as sessões de meditação coletiva em Adhitthana de 14:30 - 15:30h, e das 18:00 - 19:00h; o resto dos horários são livres.
- Jantar às 17:00h;
- Início do descanso até, no máximo, às 23:00h.
Saída (dia 11)
- Despertar às 04:00h;
- Meditação Vipassana na sala ou no quarto das 04:30 - 05:15h;
- Meditaçao Vipassana em Addhitthana, Meditação Metta Bhavana e encerramento com cânticos das 05:15 - 06:30h;
- Mutirão de limpeza das 06:30 - 08:00h;
- Café da manhã e check out às 08:00h.
Para quem é/ Para quem não é
Nesse ponto da leitura acredito que você já se deu conta de que o Curso de Meditação Vipassana não é uma colônia de férias ou um retiro de descanso, não é? A técnica está mais para um treinamento, um processo intenso de purificação e auto observação.
Durante 10 dias você estará comprometido com o seu estudo das 04:30h da manhã até às 21:00h da noite. São em torno de 10/11h por dia sentado meditando, o que se torna um grande desafio físico e mental. Por isso, você deve avaliar se está preparado para passar por isso nesse momento.
É forte e desafiador! Para mim valeu cada minuto, mas você precisa estar firme no seu processo de autoconhecimento e purificação de crenças e padrões; o que vai te demandar trabalho e força de vontade constantes, pois as sombras vem à tona a todo momento e você precisa se convencer a ficar quase que diariamente.
Indico de coração para todas as pessoas que tem força de vontade, comprometimento e determinação em sua curiosidade sobre si, ou tem profundo interesse em Yoga, Meditação, Vedanta, Terapias Energéticas (como Reiki, Bioenergética, FTP, Renascimento, Cristais, Barra de Access, Constelação Familiar, Theta Healing, Multidimensional, Sound Healing, Biodança), Autoconhecimento, Psciologia, Pscinálise, Física Quântica, Religiões, Expansão de Consciência e áreas relacionadas.
O que levar
- Roupas para 10 dias: dependendo da época do curso a temperatura varia, informe-se sobre as condições na data da sua estadia. O alojamento dispõe de tanque e varal se precisar lavar algo. Evite roupas de tecidos sintéticos e com penduricalhos por causa do barulho;
- Material de higiene pessoal (evite qualquer produto com cheio forte);
- Roupa de cama (travesseiro,fronha, lençol e cobertor) e banho (toalha de banho e de rosto);
- Pelo menos um par de sapatos que sejam fáceis de tirar (nos quartos e na sala de meditação só se entra descalço);
- Sua almofada/banquinho de meditação, xale ou manta (diferente da que você vai usar para dormir);
- Capa de chuva;
- Lanterna (e pilhas, se não for recarregável);
- Repelente;
- Garrafa (normal ou térmica);
- Seus remédios prescritos. Não tomo nada regularmente, mas tenho dor de garganta com muita facilidade e ainda iria luar; então levei gengibre desidratado e própolis, além de artemísia seca para fazer chá em caso de cólicas.
Cinco Dicas de Ouro
1.Faça um período detox pré curso e pós curso;
Essa, sem dúvida, foi uma coisa que me ajudou demais a ter um bom aproveitamento do curso. Adiantei 10 dias de obrigações da vida para que no domingo anterior ao curso (que começava na quarta) eu já estivesse mais livre. Como autônoma, isso significa muito trabalho, pagar contas, comunicar clientes e etc. Mas você também pode programar-se para fazer o retiro nas férias.
De qualquer maneira, senti a importância de ter pelo menos dois dias pré para ir me conectando com o meu propósito no estudo de Vipassana. Fui para a cidade onde aconteceria o curso e fiz um processo de preparação: Yoga duas vezes ao dia com foco na meditação, alimentação especial (fiz jejuns de 12 horas, pois sabia que comeria menos vezes do que estou acostumada) e me desliguei ao máximo de estímulos externos, exercitando ficar sem distrações, na minha própria companhia.
O mesmo aconteceu na saída do curso, no pós essa transição é ainda mais importante. Apesar do 10º dia ter uma programação "para-choque" (você já pode conversar com os outros, existem atividades de leitura, vídeo e tempo livre) ainda assim acontece um certo baque de readaptação. Em alguns momentos meus ouvidos apitavam e ficavam entupidos (experimentando novamente os barulhos), tive leves dores de cabeça e precisei descansar bastante. Voltar no curso no domingo e trabalhar direto na segunda-feira pode ser um pouco brusco, se puder, aconselho que tente programar uma folga.
2. Entenda que o desconforto é parte do processo;
Quando comecei a meditar, há alguns anos, sentia muito desconforto, principalmente nas costas e nas pernas; com o tempo de prática, isso foi melhorando. Algum nível dessa sensação é sempre importante para preservar o seu estado de alerta, do contrário - você dorme; mas nada poderia me preparar para essa experiência de sentar-se 10/11 horas por dia, isso é certo.
Lidar com o incômodo faz parte, assim como na prática do Yoga, em Vipassana a dor é algo a ser observado, um treinamento que deixa a mente mais forte para lidar com sabedoria frente as situações da vida, que - vamos combinar - não são sempre são agradáveis. Aqui aprendemos que a única coisa que podemos controlar é a nossa forma de receber esses estímulos - quanto mais próximo do equilíbrio melhor.
Quando uma sensação vier, boa ou ruim, tudo o que você deve fazer é observar com equanimidade e conectar-se à natureza impermanente das sensações. Com certeza é desafiador, mas entenda que essa é a essência desse trabalho de cura. Dores vem e vão, prazeres também - não se apegue a isso.
Nos três primeiros dias é pedido que se permaneça mais tempo sentado do que em pé, você está livre para mudar de posição o quanto quiser e pode sair da sala de meditação para se alongar, dar uma esticada na cama ou caminhar um pouco por até 5 minutos e voltar.
A partir da tarde do 3º dia, a orientação é que não se saia mais da sala durante as sessões coletivas de meditação Vipassana, que são três, de uma hora de duração cada.
A partir do 5º dia, a indicação é seguir uma forte determinação de não mudar de postura durante essas mesmas três sessões diárias: não abrir os olhos, não mexer pernas e nem mãos. Eu tive coceiras, vontades irresistíveis de abrir os olhos e espiar o relógio, dores muito intensas - mas tudo isso, da mesma forma que veio, foi embora - e pude observar que estas orientações são muito preciosas para preservar o estado de atenção fortíssimo que você está experimentando.
Claro que, se você precisar ir ao banheiro, ou tiver qualquer tipo de dor muito intensa devido a alguma doença ou lesão, você deve fazer o que for preciso para o seu alívio. Mas entenda, não existe uma posição 100% confortável - por mais que você comece super bem, aos 45 minutos da 3ª sessão de uma hora do dia, provavelmente, algo vai estar te incomodando, e pode ter certeza de que todas as 100 pessoas da sala também estão tentando lidar com isso.
Existe uma sala de almofadas (um verdadeiro paraíso) com todos os tipos de acolchoados que você imaginar, além de mantas, banquinhos, cadeiras e tapetes. Caso você precise usar qualquer um desses materiais de apoio, é só falar com xs gerentxs.
Eu levei duas almofadas, uma cadeirinha, uma xale e uma manta. E acabei precisando pegar emprestado um banquinho e mais algumas almofadas para os joelhos.
3. Entregue, confie, aceite e agradeça;
Dúvidas: elas vão vir a todo momento - Será que eu vou conseguir? Será que isso está acontecendo só comigo? Será que eu deveria mesmo estar aqui? Será que essa técnica funciona?
Lá pelo dia 2 ou 3 as dúvidas que surgem são mais em relação a rotina, a sua capacidade física e mental de concentração, ou até sobre algumas questões da sua vida lá fora - mas, ao poucos, elas vão se atenuando e você vai ficando mais fortalecido e presente.
Conforme adentramos o campo do inconsciente, no dia 3, a coisa vai ficando um pouco mais delicada e, lá pelo dia 5, tudo torna-se muito intenso. A proposta dessa meditação é que você comece a entrar em contato com velhos padrões de comportamento para que possa erradicá-los - não pense que hábitos e episódios fortemente marcados em você virão a tona de forma branda, ou prazerosa - as sombras vem com tudo. Mas você precisa estar forte, confiante e determinado para atravessá-las, então - nesse ponto do processo - não se sabote, trabalhe com toda seriedade.
Passei os cinco primeiros dias do curso na TPM, e os outros cinco na minha lunação - numa lua minguante em Capricórnio, que convida ao alinhamento ao que é essencial - então imagina a pressão. Tive sonhos - muitos, insights, lembranças - dos mais variados tempos, visões e sensações extremamente fortes, e hoje honro essa experiência com gratidão e total consciência da preciosidade e eficiente dessa técnica.
Observar as regras é de extrema importância para o seu desenvolvimento, então, se você não entender a razão de qualquer uma delas procure conversar com o xs gerentxs ou professorxs, ou apenas observe-as por mais algum tempo - tudo tem um porquê.
Para mim, as principais questões de resistência interna foram: não poder falar com as minhas companheiras de quarto, me adaptar a comida sem sal e ter um espaço limitado para andar nos intervalos. E o que compreendi foi:
A orientação do silêncio é muito importante para tornar a mente mais quieta e sensível, além de prevenir que as pessoas comparem as sua experiências de meditação - o que poderia deixar alguns desestimulados (apego ao negativo) ou apegados (apego ao positivo).
Sobre a questão do sal e da limitação do espaço, a lição foi muito maior. Na vida cotidiana moderna estamos muito acostumados aos extremos: muita comida, muito açúcar, muita bebida, muito celular, euforia, depressão, etc. Vivemos em desequilíbrio e isso tem nos tornado buscadores eternos de estímulos cada vez mais fortes; nos deixando meio insaciáveis, meio egoístas, meio brutos, meio tristes. Essa maneira de ver e viver a vida tem criado uma verdadeira capa de insensibilidade, que nos impede de perceber o outro e a realidade como ela é em sua integralidade: mágica a sutil. A boa notícia é que uma das chaves de volta para o coração está, literalmente, bem embaixo do nosso nariz. Por isso, uma alimentação de gosto suave, para que - dia a dia, você possa descobrir novos sabedores e explorar novas notas do seu paladar. Por isso também um jardim pequeno para se caminhar, para que - dia a dia, você possa perceber um novo detalhe na vegetação, no céu, um novo pássaro, um novo inseto. Mesma as experiências fora da sala de meditação estão alinhadas a constante redescoberta de si, em cada ação, a cada momento.
4. Conte com o apoio dxs gerentxs e professorxs;
As pessoas - com certeza são uma das grandes riquezas desse curso: servidorxs, xs gerentxs e xs professorxes dão todo o apoio para que você desfrute o curso da melhor maneira possível, construindo um ambiente de amor, paz, cuidado, cooperação e solidariedade.
Xs servidorxs são alunxs antigos que doam seu tempo e habilidades para que tudo funcione: alimentação, limpeza dos espaços e muitos outros detalhes essenciais.
Xs gerentxste auxiliam nas questões do dia a dia: conforto na sala de meditação, necessidade gerais, manutenção mais complexa de qualquer espaço, etc;
Xs professorxs vão te ajudar nas questões relativas à meditação. O espaço para as dúvidas e entrevistas individuais é precioso. Para mim, foi um apoio e tanto para que eu pudesse observar da melhor maneira a minha dor, o meu sono e todas as dúvidas que foram surgindo na medida em que o trabalho se aprofundava.
A limpeza da louça e dos banheiros durante o curso é tarefa dos próprios meditadores.
5. Aproveite os períodos de descanso na programação.
Da maneira que lhe for conveniente, faça bom uso dos intervalos e dos descansos. Esses espaços de respiro são verdadeiros bálsamos numa rotina de meditação diária super puxada.
É muito comum, por exemplo, que você tenha dificuldades de dormir. Como a mente acessa um estado de atenção muito grande em relação às sensações, você fica num estado de alerta constante. Eu também penei bastante com dores nas costas e nos joelhos - então na maioria dos intervalos, eu tomava um banho quente e fazia massagens nas áreas mais tensionadas, caminhava, descansava o corpo ou fazia bons alongamentos no quarto.
Como participar
Para participar desse Curso de 10 dias de Meditação Vipassana, que é o introdutório dentro do ciclo do método, basta enviar a sua inscrição pelo site e aguardar aprovação. Existem cursos menores, mas eles estão acessíveis somente para quem já completou pelo menos um de iniciante.
A experiência é totalmente gratuita; o financiamento da estrutura, comida e toda força de trabalho envolvida na manutenção e realização do retiro se dá por doação e/ou serviço voluntário de alunos antigos.
As vagas costumam se esgotar com rapidez, portanto é importante programar-se: tenha certeza de que terá um período de 10 dias de disponibilidade, verifique a lista de cursos e fique atento a data em que se iniciam as inscrições. No mundo são mais de 323 (185 centros próprios, 138 locais variados) pontos de ensino da Meditação Vipassana; sendo 4 no Brasil (2 em construção - em Goiás e na Bahia; e 2 em funcionamento - no Rio e em São Paulo).
Rio de Janeiro I Miguel Pereira
Centro de Meditação Vipassana Dhamma Santi
Informações e Inscrições aqui
São Paulo I Santana de Parnaíba
Centro de Meditação Vipassana Dhamma Sarana
Informações e Inscrições aqui
Namastê,
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